Para os que creem que divisões, rachas e todo tipo de cisão são problemas modernos de nossa ordem, um alerta: Olhem para trás. Nossa organização assim como qualquer outra composta por seres humanos esta fadada a ter em si a diferença de pensamentos. Serão vistos em nossos organismos os mais diversos modos de pensar, os mais diversos modos de entender e conceber a tudo o que há. Isto no geral é bom, basta que com isso saibamos aprender e direcionar corretamente como uma ferramenta útil.
Mas, quando os ditos “líderes” são inaptos para tal, e portanto não percebem os rumos que a instituição a que pertencem esta tomando, ou pior, quando permanecem simplesmente inertes mesmo quando conscientes, ai encontramos as mais variadas formas de divisões. Na Ordem DeMolay temos o primeiro grande caso em 1951 no estado de Ohio/EUA. Naqueles tempos Ohio, como o estado mais desenvolvido e politizado em termos de Ordem DeMolay, começou a questionar constantemente os exorbitantes valores praticados em nossa organização. Em especial uma região uniu-se e solicitou ao Oficial Executivo do estado que revisse esta posição. Some-se neste ponto as já diversas discordâncias para com os atos administrativos de tal Oficial Executivo.
As circunstâncias agravaram-se de tal forma que buscando uma forma de continuar trabalhando mas sem padecer das insolências de poder daquele gestor, um pequeno grupo de capítulos reuniram-se e decidiram por retirarem-se da Ordem DeMolay, criando assim a Ordem das Cruzadas, que funcionava com a mesma estrutura e estilo funcional. Tanto que estes capítulos permaneceram trabalhando no sistema de dois graus, sendo estes “Cavaleiro da Rosa Branca” e “Cavaleiro das Cruzadas”. Diante de tais movimentos o comando da ordem exerceu de fato seu poder sufocando a nova organização de todas as maneiras possíveis. Desautorizou seus líderes, desvinculou alguns, puniu outros, e tratou de reestabilizar a região. Assim esta nova ordem desapareceu em 1954. Estava aprendida a lição, e naquela nação não mais prosperaram os intentos divisionistas.
Tantas outras atividades similares vimos por todo o mundo. Aqui mesmo no Brasil vimos muitos movimentos descontentes com as resoluções e principalmente com a passividade de nosso supremo conselho. Muitas foram as vezes em que questionou-se o proceder dos gestores de nossa instituição, mas os descontentamentos que naturalmente configuram um pedido solene da base por mudanças não foram atendidos. Permanecemos com vários problemas e nenhuma intenção de estabelecer-se soluções reais. Vimos uma cascata de atos de protelação. Isto levou a que na década de 90 surgissem seríssimas desavenças entre o então Grande Mestre Alberto Mansur e muitos membros do estado de São Paulo e de algumas outras regiões, em especial o Nordeste. Dentre as principais reivindicações também figurava a questão financeira; e desta contenda surgiu a Ordem JDeMolay, cópia fiel de nossa instituição que mantinha inclusive o mesmo ritual, havendo apenas a troca das citações “DeMolay” pela nomenclatura “JDeMolay” como forma de diferenciação mínima.
A ferida não foi combatida, o movimento estabilizou-se e permaneceu isolado indo pouco a pouco pelo caminho da auto destruição por conta da falta de seus próprios líderes. Abria-se a brecha e não tardou a ver-se instalado o Grande Conselho de Capítulos do Estado de São Paulo. Desta vez o movimento de rebeldia é enorme e surge como um golpe muito bem planejado. Novamente o Supremo Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil, guiado por mãos fracas e pouco comprometidas não reage devidamente. Os arquitetos da nova instituição não contentam em separar-se mas rumam por uma campanha vasta em cooptar mais capítulos, o que o fizeram com alto êxito; vimos um segundo estágio, onde este mesmo grupo passou a fundar e instalar vários outros capítulos por si mesmo, criando um vasto campo de existência.
O que vimos neste episódio foi algo muito mais estruturado que contou com líderes, com apoio intelectual e mobilização das bases, não baseado no apoio institucional maçônico e sim numa reação interna da ordem. Logo converteu-se em um reduto onde a administração progressiva foi a marca registrada. Em breve espaço de tempo este grupo havia constituído seus próprios métodos e rotinas, atingindo melhorias significativas. Restava então o último passo: Blindar-se. O que fizeram maestralmente. Permaneceram trabalhando unidos, com solidez de comando e nenhum relacionamento externo. Criaram seu próprio mundo.
A partir deste momento sua existência mesmo que intocável para os demais membros da ordem permaneceu como um símbolo de resistência e insubmissão a hierarquia estabelecida. Alimentou os sonhos de muitos gananciosos e as esperanças de tantos outros idealistas. A “grande ordem” continuou seu caminho sem rumos, embaralhando-se em suas brigas. Diversas correntes, até mesmo rivais, começaram a alinhar seus esforços na tentativa de aumentar o poder de pressão sobre o supremo conselho, tentando desta maneira abrir caminho para novas e importantes mudanças.
A grande reivindicação da ordem naquele momento, e principal bandeira destas correntes era a necessidade de democratizar a ordem. Os antigos gregos foram sábios ao proporem a democracia e incutirem nela a necessidade da alternância de poder como único modo de garantir de fato as liberdades e os direitos dos homens, pelo que não se costuma encontrar em qualquer tipo de totalitarismo. Depois de quase três décadas as fileiras agonizavam por um novo comandante. Uma grande negociação foi feita para que isto ocorresse de forma harmoniosa, mas aos olhos de muitos isto nunca se tornaria realidade. Aqui fomos reféns dos propósitos pessoais e egoístas de alguns homens, que fervilharam o desejo de mudança incontrolável, mobilizaram jovens mentes, e os conduziram como gado à uma nova estrutura.
Subvertendo nossa autonomia, independência e soberania, uns poucos maçons tentaram tratar a Ordem DeMolay como propriedade intelectual e material de obediências maçônicas brasileiras, que sequer possuem sólido reconhecimento internacional. Aproveitaram-se das justas e necessárias reivindicações para satisfazer seus egos. Aviltando os ideais preconizados pelo Dad Land, compraram a cooperação externa e auto intitularam-se donos de nossa instituição; como se algo tão grande pudesse ser patrimônio de alguém senão de Deus; confundindo patrocínio e apoio com propriedade milhares de jovens e maçons dedicados foram conduzidos ao erro e enganados foram todos arrastados para o que conhecemos como “Supremo Conselho da Ordem DeMolay para a República Federativa do Brasil”.
Vimos do meio dos jovens demolays surgir o pensamento puro de irmandade, e a reivindicação espontânea de união entre os irmãos. Surgiu o que ficou conhecido como MUB, Movimento Unifica Brasil. Que do meio das fileiras tentou, e tenta, gritar aos altos colares que eles a muito já não representam os ideais da ordem, e expressam claramente a necessidade do fim da cisão que divide a Ordem DeMolay brasileira, a maior do mundo. Mas estes mesmos irmão calorosos sentiram o peso do orgulho e das vaidades humanas quando foram calados nos eventos em que se manifestaram por seguranças em uso abusivo da força. Quando ouviram palavras ainda mais violentas e tiveram sua luta rechaçada por seus comandantes, vendo e sentindo o peso da opressão de que muitos ainda padecem, naquilo que deveria ser uma ordem de homens livres.
Os homens devem aprender a lição de pensar duas vezes antes de solicitar admissão em instituições, revendo com sinceridade o propósito de serem membros delas. E nós, a quem nos reconhecemos como irmãos, devemos pensar duas vezes antes de admitir, não somente novos membros, mas principalmente em admitir alguns dos “nossos” como líderes para que não paguemos o preço daqueles que não zelam por aquilo que é seu, pois em verdade estaremos descuidando de nós mesmos.
Irmão,você poderia me indicar fontes para saber mais sobre a Ordem das Cruzadas?
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